21/09/2017

A CERTEZA DO INCERTO


- foto: Flickr -

O mundo é um grande gênio da lâmpada que grita em nossos ouvidos "faça três desejos" o tempo todo. O tempo todo. Com todos. Sem sequer uma oportunidade de pensamento. E o que você tem é a apenas a tão temida decisão. Urgente. Por que diabos você está pensando? Decida logo. Três desejos. 

Eu não te culpo. Calma. Não vou te julgar. Eu também fiquei surpreendida quando fui questionada e posso dizer, com toda tranquilidade do mundo, que me desesperei no principio. E eu, angustiada, gritava ao vento que me deixasse pensar. Como tudo nesse mundo, ele - o gênio - nem se importou com minha escolha meticulosa e me deixou ali, pensando. Posso dizer que nem notei quando ele foi embora e ia dizer o primeiro pedido - pediria algo como passar numa faculdade ou felicidade ou, talvez, paciência - quando percebi que eu estava sozinha ali. De novo. Sozinha com a brisa da manhã. Ele estava com pressa, pensei decepcionada. Como todos desse mundo. 

Mas, foi quando esse doido saiu correndo de mim, ali, sozinha e preparada, que eu percebi que 1) eu precisava de algo que não fosse tão momentâneo e 2) eu não precisava estar decidida. Percebe? O gênio correu de mim, mas eu consegui perceber que o que eu precisava ele não podia me dar. Grifei a palavra mesmo, leia ela de novo, se preferir. Sabemos, eu e tu, leitor, que o, às vezes, toda hora, o mundo irá te pedir que você decida como quem decide que número de roupa comprar: rápido e certo. Mas, se você também não respondeu como eu, está tudo bem. Existe beleza no Incerto.

Vou relatar aqui o que aconteceu quando o gênio correu de mim. Antes, eu pensei bem. E fiquei bem tristinha. Talvez tenha batido aquela crise existencial, sabe? Mas, tudo bem, de novo, porque, voltando para casa esbarrei em Alguém esquecido. Tivemos uma daquelas saudações tímidas e ligeiras, fazia tempos que não nos falávamos. Mas, Ele, muito educado, me convidou, leia de novo, por favor, me convidou para tomar um cafézinho. E foi ali, naquele fim de tarde, com cheirinho de café, que percebi. Percebi algo muito bonito. Vou dizer para você. Percebi que minha única certeza estava no Incerto. Ali, com Ele. Percebi que não, eu não precisava de nada daquilo que eu ia pedir. O que eu precisava mesmo era o Incerto. Ali, com Ele.

E então, eu vi flores. Você já viu a beleza dos ipês-rosa nessa estação? Rosas como poesia. A Poesia viva do Autor. Esqueci-me completamente do maluco da lâmpada e foquei na Poesia Viva. Perdemos tanto encantamento focando na pressa do mundo. É só focar na Poesia Viva. E ai, depois do café, eu corri. Corri com velocidade, corri para fugir do medo e da ansiedade, corri como quem corre para o Pai. Corri veloz e ágil e parei quando vi o Monte. Eu nem sabia direito, e ainda nem sei, quem dirá?, mas eu parei ali. No Monte. Com os ipês-rosa. Com a Rocha. E fiquei ali, debaixo de uma árvore bem bonita, olhando para Ele. Eu não sei direito, mas fiquei ali, descansando da corrida e de todo o dia maluco com o gênio maluco. Fechei os meus olhos e descansei no Incerto. Eu não sei, mas vou descansar. 

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